Produtos Cosméticos Sustentáveis
Os consumidores procuram cada vez mais transparência e autenticidade nas marcas de produtos cosméticos. A escolha de ingredientes sustentáveis, embalagens ecologicamente sustentáveis e apelos coincidentes com a verdade são passos importantes para alcançar o status de "marca sustentável". Três pilares essenciais devem ser considerados neste processo: proteção ambiental, responsabilidade social empresarial e governança ética.
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Marta Pinto

Consultora Assuntos Regulamentares

SUSTENTABILIDADE E TRANSPARÊNCIA DA INDÚSTRIA COSMÉTICA

A Organização das Nações Unidas (ONU) desenvolveu uma estrutura global sustentável, onde estabeleceu 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (Sustainable Development Goal). O principal objetivo é proteger o planeta. Estas metas são consideradas o “modelo para alcançar um futuro melhor e mais sustentável para todos”. A produção e o consumo mais sustentáveis ​​representam etapas críticas deste processo.

Inovação e sustentabilidade andam de mãos dadas. A indústria cosmética continua a inovar e a encontrar novos ingredientes, mas nem sempre considera toda a sua cadeia de fornecimento e o seu impacto ambiental. A formulação, produção, uso e eliminação de embalagens de produtos cosméticos podem ter um grande impacto no planeta. Portanto, produtos biodegradáveis, naturais e orgânicos são cada vez mais pedidos pelos consumidores.

Os consumidores querem mais transparência das empresas de cosméticos. Muitos deles exigem saber quais são os ingredientes usados ​​e quais as cadeias de fornecimento escolhidas (especialmente as origens). Além disso, pedem que na rotulagem sejam utilizadas linguagem e informações mais claras.

A indústria da beleza está sob crescente escrutínio da sociedade e um fornecimento mais responsável está a ser exigido em todos os mercados. Ingredientes ecológicos (environmentally-friendly), práticas de maior transparência e uso de embalagens recicladas (ou recicláveis) são a chave para alcançar o status de sustentabilidade e realmente contribuir para fazer a diferença.

As empresas de cosméticos devem considerar a rastreabilidade dos ingredientes naturais e o grau em que foram obtidos de forma sustentável (por exemplo, abastecimento ético e responsável, comércio justo). É essencial trabalhar com terceiros (por exemplo, fornecedores, fabricantes) que possam fornecer documentação para apoiar a transparência da cadeia de abastecimento. Fontes de ingredientes consideradas 1não sustentáveis’, como animais, petroquímicas ou plantas em risco de extinção, devem ser evitadas a todo custo.

A CAUSA AMBIENTAL – CERTIFICAÇÃO ECO-FRIENDLY

Conforme abordado em artigos anteriores, existem diretrizes internacionais (ISO 16128) que especificam definições técnicas e critérios relacionados com os cosméticos naturais e orgânicos. No entanto, são necessárias mais diretrizes relativamente a produtos limpos (clean), ecológicos e sustentáveis. Tais guidelines deveriam abranger a compra responsável (origem ingredientes) e estabelecer padrões para níveis mais elevados de transparência.

As certificações são essenciais para comprovar certos tipos de alegações (por exemplo, natural e orgânico) em produtos cosméticos. A certificação envolve investimento e pode ser dispendiosa, principalmente para marcas mais pequenas. No entanto, a certificação pode representar um aumento da confiança do consumidor na marca e, consequentemente, gerar mais vendas ou facilitar o acesso da marca a mercados novos e mais exigentes.

Os pedidos dos consumidores estão a moldar a indústria de cosméticos, tornando-a mais sustentável e “ecologicamente correta”. A produção de cosméticos “ecológicos” permitirá aumentar a reputação da empresa, melhorar a qualidade do produto e diminuir o impacto negativo que os seus produtos têm no planeta.

RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA E GOVERNAÇÃO ÉTICA

Responsabilidade social corporativa (CSR – Corporate Social Responsability) é um tipo de autorregulamentação internacional de negócios privados que visa contribuir para os objetivos sociais de natureza filantrópica, ativista ou caritativa, participando ou apoiando práticas de voluntariado ou orientadas para a ética. Várias leis internacionais foram desenvolvidas e várias organizações usaram a sua autoridade para empurrá-la para além de iniciativas individuais ou mesmo de toda a indústria. Ao longo da última década, aproximadamente, mudou consideravelmente de decisões voluntárias ao nível de organizações individuais para esquemas obrigatórios a níveis regional, nacional e internacional.

Ao nível organizacional, a CSR é geralmente entendida como uma iniciativa estratégica que contribui para a reputação de uma marca. Como tal, as iniciativas de responsabilidade social devem estar coerentemente alinhadas e integradas no modelo de negócios da empresa, de forma a ter sucesso. Com alguns modelos, a implementação de CSR de uma empresa vai além do cumprimento dos requisitos regulamentares e envolve-se em “ações que parecem promover algum bem social, além dos interesses da empresa e do que é exigido por lei”.

Além disso, as empresas podem envolver-se em CSR para fins estratégicos ou éticos. De uma perspectiva estratégica, a CSR pode contribuir para os lucros da empresa, especialmente se as marcas auto-reportarem voluntariamente os resultados positivos e negativos dos seus esforços. Em parte, estes benefícios aumentam com o aumento de relações públicas positivas e altos padrões éticos para reduzir os riscos comerciais e legais ao assumir a responsabilidade por ações corporativas.

O status sustentável incentiva as empresas, não apenas a causar um impacto positivo no meio ambiente, mas também em todas as outras partes interessadas, incluindo consumidores, colaboradores, investidores e comunidades. Não tem a certeza de como tornar sua marca mais sustentável? Não hesite em contatar-nos em info@criticalcatalyst.com

Referências:

  1. Sustainable Development Goals. United Nations. Available from: https://www.un.org/sustainabledevelopment/sustainable-development-goals/
  2. ISO 16128-1:2016. Cosmetics — Guidelines on technical definitions and criteria for natural and organic cosmetic ingredients – Part 1: Definitions for ingredients.
  3. ISO 16128-2:2017. Cosmetics — Guidelines on technical definitions and criteria for natural and organic cosmetic ingredients – Part 2: Criteria for ingredients and products.
  4. Johnson, Zachary; Ashoori, Minoo; Lee, Yun (2018). “Self-Reporting CSR Activities: When Your Company Harms, Do You Self-Disclose?”. Corporate Reputation Review21 (4): 153–164.

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