PFAS – Os ‘Químicos Eternos’ Tóxicos que são Usados em Produtos Cosméticos
PFAS, também chamados de "químicos eternos", são amplamente usados ​​em todo o mundo em produtos de consumo diário, como utensílios de cozinha antiaderentes, embalagens de alimentos, cosméticos e roupas. No entanto, estes produtos químicos são potencialmente prejudiciais à saúde e ao ecossistema. Estudos recentes estimam que mais de 50% dos cosméticos vendidos nos EUA e Canadá podem conter PFAS.
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Marta Pinto

Consultora Assuntos Regulamentares

O QUE SÃO PFAS?

Os PFAS são substâncias perfluoroalquiladas e são um grupo de produtos químicos sintéticos. Existem mais de 4.700 PFAS diferentes. Estes produtos químicos são fabricados e usados ​​numa ampla variedade de indústrias por todo o mundo. O PFAS podem ser encontrados em embalagens de alimentos, produtos domésticos comerciais (por exemplo, produtos antiaderentes como Teflon, vernizes, ceras, tintas, etc.) e água potável (normalmente localizada e associada a uma instalação específica). Os PFAS podem até estar presentes em organismos vivos, como peixes, animais e humanos, nos quais têm a capacidade de se acumular e persistir ao longo do tempo.

As pessoas podem ser expostas aos PFAS através dos alimentos, que foram contaminados pelo solo, embalagens de alimentos ou equipamentos. As pessoas também podem ser expostas se estes químicos forem libertados durante o seu uso normal, na biodegradação ou no descarte/eliminação de produtos de consumo que contenham PFAS. A exposição ocupacional também é uma possibilidade.

PFOA (ácido perfluorooctanóico) e PFOS (sulfonato de perfluorooctano) são as substâncias mais estudadas dentro da família PFAS. O GenX e o PFBS também pertencem ao grupo de químicos PFAS. O PFBS tem sido usado para substituir o PFOS e GenX é o nome comercial de uma tecnologia usara para produzir fluoropolímeros de alta performance sem utilizar PFOA.

O PFOA e o PFOS mostraram causar efeitos nocivos a nivel da reprodução, de desenvolvimento, hepáticos, renais e imunológicos em animais de laboratório, e ambos são conhecidos por causar tumores em animais. Como os PFAS se podem acumular no corpo humano (e permanecer por longos períodos), o nível destes produtos químicos pode aumentar até ao ponto de produzir efeitos adversos à saúde. Estudos epidemiológicos demonstraram que os PFAS induziram níveis aumentados de colesterol entre as populações expostas, entre outros efeitos relacionados com peso dos bebés ao nascer, efeitos no sistema imunitário, cancro (PFOA) e distúrbios na hormona tiroideia (PFOS). O PFBS, quando administrado por via oral a animais, produziu efeitos de desregulação da hormona da tiróide (via particularmente sensível ao PFBS) e afetou os órgãos reprodutores e o desenvolvimento fetal, por exemplo.

As pessoas expostas a altos níveis de PFAS e grupos populacionais vulneráveis ​​(crianças e idosos) correm maior risco de efeitos adversos.

ESTUDO SOBRE PFAS PRESENTES EM COSMÉTICOS NA AMÉRICA DO NORTE

Os PFAS são adicionados aos cosméticos para aumentar a sua durabilidade e resistência à água, uma vez que possuem propriedades como hidrofobicidade e capacidade de formar um filme. Estima-se que mais de 50% dos cosméticos vendidos nos EUA e Canadá podem conter PFAS. A presença de produtos químicos PFAS em cosméticos “pode representar um risco para a saúde humana por meio da exposição direta e indireta, bem como um risco para a saúde do ecossistema ao longo do ciclo de vida destes produtos”.

Um estudo recente, conduzido por investigadores da Universidade de Notre Dame, testou 231 produtos cosméticos, focando-se em máscaras de pestanas e batons, que são regularmente usados ​​no quotidiano. Os investigadores descobriram que 63% das bases de maquilhagem, 55% dos produtos para os lábios (62% dos batons líquidos) e 47% das máscaras de pestanas continham flúor (fluorine, que é um indicador de PFAS). As bases obtiveram a maior média de flúor total. Os produtos cosméticos que usualmente alegam ser “duradouros” ou “resistentes à água” (por exemplo, bases, batons líquidos, máscaras à prova de água) demonstraram ter níveis mais elevados de flúor.

Dos 231 produtos analisados, apenas 8% indicavam PFAS na lista de ingredientes, expondo uma lacuna nas leis de rotulagem dos EUA e do Canadá. Os investigadores afirmam que “é necessária uma melhor rotulagem e supervisão do governo de produtos químicos nocivos em produtos de higiene pessoal”.

NOVO PROJETO DE LEI NOS EUA

Embora o PFOA e o PFOS tenham vindo a ser eliminados voluntariamente pela indústria (especialmente nos EUA), estes compostos ainda persitem no meio ambiente.

Em junho deste ano, os senadores dos EUA (Susan Collins e Richard Blumenthal) apresentaram o projeto de lei No PFAS in Cosmetics Act, que proíbe o uso de substâncias PFAS (adicionadas intencionalmente) em cosméticos. Este projeto de lei direciona a Food and Drug Administration (FDA) a emitir uma proposta legislativa para proibir a adição intencional de PFAS neste tipo de produtos. O No PFAS in Cosmetic Act declara que: “no máximo 270 dias após a data de promulgação desta Lei, o Secretário de Saúde e Serviços Humanos emitirá uma proposta de regulamento para proibir o uso de perfluoroalquil e polifluoroalquil adicionados intencionalmente em cosméticos. O mais tardar 90 dias após a emissão da proposta de regulamento, o Secretário deverá finalizar tal regra ”.

PFAS NA EUROPA

A Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA – European Food Safety Authority) avaliou a toxicidade dos PFAS e estabeleceu um novo limite de segurança para os principais produtos químicos deste grupo. A ingestão semanal tolerável (TWI – Tolerable Week Intake) foi estabelecida em 4,4 nanogramas por quilograma de peso corporal por semana. O Painel concluiu que “partes da população europeia excedem este TWI, o que é preocupante”.

A EFSA considera que bebés e outras crianças são os grupos populacionais mais expostos e que a exposição durante a gravidez e a amamentação é o principal contribuinte para os níveis de PFAS nesta população.

Alguns PFAS trazem benefícios para a sociedade, como é o caso dos utilizados em dispositivos médicos e equipamentos de proteção individual para os trabalhadores. A Comissão Europeia considera que o “conceito de utilizações essenciais – que foi proposto para ser aplicado ao PFAS – ajudaria a identificar utilizações críticas para a sociedade e as permitiria apenas se alternativas adequadas não estivessem disponíveis”.

O Regulamento Europeu (CE) N.º 1223/2009 relativo aos produtos cosméticos irá ser revisto pela Comissão Europeia até ao final de 2022. Prevêem-se ações sobre determinados ingredientes, incluindo PFAS. De acordo com a regulamentação da UE, existem vários PFAS (como o PFOA) que são proibidos em produtos cosméticos (incluídos no Anexo II).


Se desejar saber mais sobre a regulamentação PFAS, alternativas de fabrico e as suas implicações na saúde humana, não hesite em contatar-nos atavés do email info@criticalcatalyst.com


Referências:

  1. Whitehead H, Venier M, Wu Y, Eastman E, Urbanik S, Diamond M, Shalin A, Schwartz-Narbonne H, Bruton T, Blum A, Wang Z, Green M, Tighe M, Wilkinson J, McGuinness S, Peaslee G. Fluorinated Compounds in North American Cosmetics. 2021. Published by American Chemical Society.
  2. No PFAS in Cosmetics Act. Senate of the United States. 117th Congress, 1st Session. Available from: https://www.collins.senate.gov/sites/default/files/No%20PFAS%20in%20Cosmetics%20Act_0.pdf
  3. Risk to human health related to the presence of perfluoroalkyl substances in food. European Food Safety Authority Panel on Contaminants in the Food Chain (EFSA CONTAM Panel). Available from: https://efsa.onlinelibrary.wiley.com/doi/epdf/10.2903/j.efsa.2020.6223
  4. Commission Staff Working Document – Poly and perfluoroalkyl substances (PFAS). 2020. European Commission. Available from: https://ec.europa.eu/environment/pdf/chemicals/2020/10/SWD_PFAS.pdf

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